Sermão de Natal – São Teófano, o Recluso

A Natividade de Cristo

Glória a Ti, ó Senhor! Mais uma vez acolhemos os aguardados dias luminosos da Natividade de Cristo. Alegremo-nos e regojizemo-nos. Para elevar as nossas festividades a um nível mais alto nesses dias, a Santa Igreja instituiu intencionalmente um jejum antes delas — uma certa quantidade de restrição, para que, ao entrarmos no período festivo, sintamos como se estivéssemos entrando na liberdade. Não obstante, a Igreja de modo nenhum deseja que renunciemos a meros deleites sensuais e prazeres carnais. Uma vez que a Igreja desde os tempos antigos chama esses dias de sviatki (“dias santos”), eles exigem que o nosso próprio júbilo nesses dias seja santo, como eles são santos. Para que os que se alegram não se esqueçam de si mesmos, a Igreja coloca um hino curto em nossos lábios para glorificar o Cristo recém-nascido, pelo qual a carne é acalmada e a alma é elevada, mostrando as atividades adequadas a esses dias: “Cristo nasceu, glória a Ti”, e o resto.[1] Glorifique Cristo; glorifique-O, para que por meio dessa doxologia o seu coração e a sua alma possam se deleitar e, assim, silenciar qualquer necessidade de várias outras tarefas e ocupações que prometem algum tipo de prazer. Glorifique Cristo: isso não significa que você tem de compor longas canções de louvor para Cristo — não. Mas se ao contemplar ou ouvir sobre o nascimento de Cristo, o Salvador, você clamar involuntariamente do fundo da alma, “Glória a Ti, ó Senhor, pois Cristo nasceu!”, isso é suficiente. Será um hino silencioso do coração, o qual, não obstante, passará pelo céu e entrará no próprio Deus. Repita com um pouco mais de clareza para si o que o Senhor fez por nós e você verá o quão natural essa exclamação é agora. Para facilitar, façamos uma comparação com o seguinte incidente:

Um rei promete a liberdade a um homem que está aprisionado num calabouço e preso com grilhões. O prisioneiro aguarda um dia, depois outro, depois meses e anos. Ele não vê o cumprimento da promessa, mas não perde a esperança e crê nas palavras do rei. Finalmente, vê sinais de que a liberdade está chegando. Sua atenção aumenta — ele ouve um ruído; alguém está se aproximando com palavras de ânimo. Agora as fechaduras caem e o libertador entra. “Glória a Ti, ó Senhor!”, o prisioneiro clama involuntariamente. “O fim da minha prisão chegou, e em breve verei a luz de Deus!”

Ou um outo incidente: um homem doente está coberto de feridas e tem todos os membros paralisados. Ele já tentou todos os remédios e trocou de médico muitas vezes. Sua persistência está esgotada, ele está prestes a se entregar ao desespero. Dizem-lhe: “Há mais um médico muito habilidoso, que cura todos das mesmas enfermidades que você tem. Nós lhe pedimos para que viesse, e ele prometeu vir”. O paciente crê, surge nele a esperança e ele aguarda pelo prometido… Uma hora se passa, depois outra, e a ansiedade começa a atormentar a sua alma. Finalmente, à noite, alguém chega… A porta se abre e o esperado visitante entra… “Glória a Ti, ó Senhor!”, grita o doente.

Eis aqui outro exemplo: uma nuvem carregada paira sobre a face da terra, e ela está coberta de trevas. Trovões abalam as fundações das montanhas e relâmpagos rasgam o céu de uma extremidade à outra. Todos estão com medo, é como se o fim do mundo tivesse chegado. Quando os trovões passam e o céu clareia, todos respiram aliviados, dizendo: “Glória a Ti, ó Senhor!”.

Leve esses exemplos para mais perto de si e verá a toda a nossa história neles. As nuvens ameaçadoras da ira de Deus estavam sobre nós. O Senhor — o Pacificador — veio e dispersou a nuvem. Estávamos cobertos dos ferimentos dos pecados e das paixões; o Médico de almas veio e nos curou. Estávamos presos com os grilhões da escravidão; o Libertador veio e soltou os nossos grilhões. Leve todos esses exemplos para mais perto do seu coração e assimile-os com os sentidos, e não conseguirá deixar de exclamar: “Glória a Ti, ó Senhor, pois Cristo nasceu!”.

Não tentarei transmitir essa alegria para você com as minhas palavras; ela é inefável. A obra que foi realizada pelo Senhor que nasceu toca cada um de nós. Os que entram em comunhão com Ele recebem d’Ele liberdade, cura e paz; possuem tudo isso e provam dessa doçura. Não há razão para dizer: “Alegre-se!” para os que experienciam isso dentro de si mesmos, porque não podem deixar de se alegrar. Mas, para os que não experienciam isso, por que dizer “Alegre-se!”? Não podem se alegrar. Não importa o quanto você diga “Alegre-se com a sua libertação” para quem está com as mãos e os pés amarrados. Como poderia vir a alegria para quem está coberto dos ferimentos do pecado? Como pode quem está ameaçado pelos trovões da ira de Deus respirar aliviado? Só é possível dizer a ele: “Vá até o Infante envolto nas mantas de bebê na manjedoura e busque d’Ele a libertação de todos os males que te cobrem, pois esse Infante é Cristo, o Salvador do mundo”.

Eu gostaria de ver todos se alegrando com essa exata alegria, sem querer conhecer quaisquer outras alegrias; mas nem tudo o que vem de Israel é Israel. Agora começará a alegria vazia, selvagem, que inflama as paixões…. Não importa o quanto você diga para essas pessoas se acalmarem, elas fecharão os ouvidos e não prestarão atenção. E elas sempre levam esses dias luminosos da Festa a um tal ponto que o Senhor misericordioso é compelido a desviar Seus olhos de nós e dizer: “Todas as vossas solenidades são uma abominação para Mim” (cf. Is 1:13-14)! Na verdade, muitas das nossas festividades sociais realmente são abominações; isto é, algumas delas vêm até nós diretamente do mundo pagão, enquanto outras, embora tenham aparecido mais tarde, são penetradas pelo espírito do paganismo. E planejam de propósito que tais festividades apareçam em grande quantidade durante as Festas da Natividade e da Páscoa. Ao sermos pegos por elas, damos ao príncipe deste mundo — o nosso algoz, o inimigo de Deus — uma desculpa para dizer a Deus: “Olha o que Tu fizeste por mim com a Tua Natividade e Ressurreição! Estão chegando até mim!”. Mas que as palavras do Salmo 51 sejam repetidas com mais freqüência na no fundo dos nossos corações: Para que sejas justificado em Tuas palavras, e prevaleças quando fores julgado (Sl 50:4).

A Europa esclarecida está nos atraindo. Sim, as abominações do paganismo que foram quase completamente expulsas do mundo foram restauradas primeiramente lá; vieram de lá agora aqui para nós. Tendo inalado aquele veneno infernal, corremos como loucos, esquecendo o nosso próprio eu. Mas lembremo-nos do ano de 1812 — por que os franceses vieram então até nós? Deus os enviou para aniquilar todo o mal que tínhamos imitado deles. A Rússia se arrependeu então, e Deus teve misericórdia dela. Mas agora parece que esquecemos essa lição. Se recobrarmos o juízo nada acontecerá, é claro. Mas se não recobrarmos o juízo, quem sabe? Talvez o Senhor envie novamente mestres semelhantes, para que nos façam recobrar o juízo e nos coloquem no caminho da correção. Tal é a lei da justiça de Deus: curar alguém do pecado com aquilo que o atraiu a ele. Essas não são palavras vazias, mas uma questão que foi confirmada pela voz da Igreja. Saibam, ortodoxos, que Deus não Se deixa escarnecer. E, sabendo disso, alegrem-se e regozijem-se durante esses dias com temor. Iluminem a Festa luminosa com obras, ocupações e festividades luminosas, para que todos os que lançarem sobre nós um olhar digam: “Eles têm dias santos — não o tipo de diversão vivida pelos ímpios e libertinos que não conhecem Deus”.


[1] Primeiro irmos do Cânone da Natividade de Cristo.


Retirado do livro Thoughts for Each Day of the Year (St. Herman of Alaska Monastery: 2010).


Tradução: Fernando Xavier

Você Não Pode Obrigar uma Pessoa a Mudar de Vida à Força – Arquimandrita André (Conanos)

Quando eu vim para a Santa Montanha pela primeira vez, perguntei para um monge do Mosteiro de Sta. Ana:

— Pai, o senhor é um monge, não tem uma família, filhos, não constrói casas, não trabalha em uma fábrica; o que o senhor está fazendo pelo mundo?

Eu tinha então 16 anos de idade. E ele me respondeu:

— Sabe, eu estou sujeito a muitas paixões e enfermidades. Estou sempre bravo, nervoso, tenho um temperamento difícil. E o meu negócio para você, vivendo em paz, é o seu descanso, porque não sou um fardo para você com suas paixões e fraquezas. Se eu morasse perto de você, eu te cansaria comigo, com o meu temperamento forte. Pelo menos agora eu não incomodo ninguém. Vivo aqui no meu silêncio, nos meus erros, nos meus pecados, mas deixo você em paz.

Essas são palavras muito profundas e significativas. Devemos nos esforçar para não irritar os que estão perto de nós, não aborrecê-los, não oprimir a personalidade deles. Porque mesmo se você conversar com uma pessoa sobre algo bom e certo, mas se você pressioná-la com aquilo, é irritante. Por exemplo, quando uma pessoa te diz para jejuar, orar, ir à igreja, mas é insistente demais, essa sugestão apenas irrita e o resultado é o oposto. Então, deixe o outro em paz, para que ele entenda gradualmente tudo o que você quer lhe dizer, não force com violência as pessoas a fazerem algo, não as irrite.

Passaram-se 22 anos desde uma das minhas viagens à Santa Montanha, e o devoto continua a fazer o mesmo: ele vive em silêncio, ele entrou na colméia de sua alma e coletou o mel de sua vida, mas agora as pessoas lhe pedem ajuda, elas vêm e dizem:

— Dê-nos a força da sua alma, sente-se para conversar conosco, queremos te tocar, queremos nos confessar com o senhor!

Perceba: ele não perturbou ninguém, mas agora as pessoas o estão perturbando e o procurando. Por quê? Porque ele tem o que elas não têm. Quando você perturba as pessoas e as pressiona, você não consegue acalmar as suas almas, e não as convencerá a mudar de vida. Você não pode obrigar uma pessoa a mudar de vida à força, não pode impor o bem a ela. Você só pode mudar a si mesmo. É por isso que tantas vezes as nossas palavras não são ouvidas, ninguém é persuadido e não afetamos o resto das pessoas.


Arquimandrita André (Conanos)


Tradução: Fernando Xavier

Sermão sobre o Evangelho do Filho Pródigo – São Sebastião (Dabovich)

(Lido primeiro: LUCAS 15: 11-32.)

Vocês ouviram o evangelho de hoje. A parábola do “filho pródigo” não é novidade para vocês. Vocês ouviram sobre o pródigo e o viram pecar, cair, se afundar em todas as desgraças que resultam da iniqüidade. Caso não saibam, ouviram sobre a infinita misericórdia de um Deus compassivo. Podem perceber como um bom pai traz de volta ao peito o seu filho amado, uma vez perdido, mas achado novamente. Conhecem a parábola do filho pródigo. Então por que a Igreja, ano após ano, nos lembra dessa parábola? Ela assim o faz para nos fortalecer no caminho da salvação. Até que tenhamos cruzado o último limite, e recebido nossa sentença das mãos do Divino Juiz, pertencemos à Igreja Militante, i. e., enquanto estivermos na terra, somos obrigados a lutar constantemente pelo bem.

Para se obter uma consciência em paz, amor, prosperidade espiritual e santidade, precisamos sempre batalhar contra o diabo. Quanto mais elevado e puramente espiritual é o estado que nos esforçamos para alcançar, mais feroz é a luta, e nossa guerra contra o erro, a infidelidade, a superstição, o preconceito e a corrupção deve ser constante. De fato, devemos nos superar, devemos dar o melhor de nós.

Sem dúvida você já viu homens e mulheres desperdiçando a vida com a mais horríveis formas visíveis de pecado, mas ousaria comparecer diante da temível presença do Puríssimo Ser e Criador e dizer que não é um pródigo? Você não deseja voltar para Deus — para o Pai Celestial? Pecadores, sim, somos pecadores! Um dos maiores meditadores nos caminhos da Providência Divina — o Profeta-Rei Davi — diz em sua confissão a Deus: “Muito largo é o Teu mandamento.” E, a esta luz, não existe um mandamento ou uma lei que não tenhamos transgredido.

“Definitivamente não passei meu tempo com prostitutas”, talvez alguns digam; mas você usou com cuidado o seu tempo, que não é seu, pois pertence Àquele que lhe deu, e você o guardou como um tesouro, sem gastá-lo, de modo que ele agora dê cem vezes mais lucro, agradando ao Recebedor da virtude em abundância? “Eu nunca perdi o controle de mim mesmo, de modo que, desprevenido, minha mesa se revelasse uma parca tábua de bolotas, e meus companheiros um grupo de porcos.” Contudo, talvez você não possa dizer que embelezou a sua alma com uma personalidade santa, nem enriqueceu o seu intelecto com uma  sabedoria perene; e o seu coração: ele está limpo, ele se expande para que o Espírito Santo faça livre morada nele? Ele conhece os necessitados e os dignos? Ele sai em direção ao próximo, ansioso para compartilhar com ele a própria existência — abrindo mão de todo interesse próprio, e mesmo dos confortos da vida terrena?

Bem, todos nós constituímos uma família. Somos membros de uma e mesma família. Você nunca sentirá o gosto da verdadeira felicidade, nem saberá o que é ser bem-aventurado, até que tenha aprendido essa lição. Talvez você seja um filho ou uma filha mais jovem, mas, caso seja o pródigo, lembre-se de que na Casa do Pai há pão em abundância; caia em si; reflita sobre a sua vida, lembre-se da inocência livre e confiável da sua primeira juventude; agora que está firmemente preso, mas ainda perdido, olhe para dentro de si e se encontre. E, quando tiver se encontrado, encontrará Deus com facilidade. Ele te verá, enquanto você estiver indo, de longe, seu Pai, e Ele terá grande compaixão, te abraçará e te beijará.

Se você não é um membro mais novo da família, será que não é o filho mais velho do Pai? Talvez você não seja um pródigo, um esbanjador, nem um vagueador, e talvez você goste do sossego do lar, mas você está seguro? O inimigo pode semear joio no campo do seu coração, enquanto você está dormindo confortavelmente. Você pode viver na casa do seu pai, fiel e continuamente, você pode supervisionar todo o trabalho e os servos, mas você está seguro? Não, se você não se preocupa com o paradeiro do seu irmão mais mais novo, você não está seguro para sempre. Talvez você seja o mais velho, talvez conheça todos os segredos da família, talvez as chaves de todos os baús estejam em sua posse, talvez você viva na Graça de Deus e desfrute da luz do semblante do seu Pai Celestial; ainda assim, lembre-se do filho mais velho na parábola! Porque pela falta de caridade para com um errante, um pecador, um inexperiente, para com um que trabalhou conforme uma opinião errada, ele — o herdeiro e primogênito — correu o perigo de perder tudo no final. Ele era a causa de muita ansiedade para o seu pai, que saiu e lhe suplicou. O orgulho deste (um falso orgulho era) que sofria. O pai teve que discutir com o filho, que pensava que seu senso de justiça estava sendo lesado. Na ausência de virtude e de caridade — o principal —, vemos o filho mais velho cego para a sua própria condição, pois ousou reivindicar seus direitos, enquanto a justiça pertencia ao seu verdadeiro dono, o seu amoroso Pai.

E agora, irmãos, se somos os membros mais velhos da família de Deus, pensemos na responsabilidade e não caiamos da Graça, mas continuemos em Sua Casa. Ao jovens, e aos pródigos, se a consciência deles ainda não se perdeu, a voz divina chama: vem ao teu Pai e conta-Lhe tudo, Ele aguarda com coração aberto. Amém.



Tradução: Fernando Xavier


Ícone da parábola do filho pródigo

Não Discuta com o Diabo

Todos nós pecamos, e o efeito do pecado é o aumento da energia demoníaca sobre nós. Os diabos, como qualquer anjo, são espíritos — existências noéticas —, então a nossa mente pode se comunicar com eles. Porém, como os demônios são “teólogos” muito bons e muito inteligentes — ainda que a inteligência deles seja distorcida —, não podemos escapar deles usando a lógica quando estamos sob sua influência. Só nos emaranharemos mais em suas redes.

Precisamos não escutar os nossos pensamentos, nos humilhar, nos arrepender, ser obedientes ao nosso pai espiritual e orar. É claro que os mistérios da Igreja desempenham aqui um papel fundamental — especialmente o da Confissão e participar da Santa Comunhão.


Fonte: The Ascetic Experience – Don’t argue with the devil


Tradução: Fernando Xavier

Cristo Não Triunfou sobre a Morte? – Abade Tryphon

Novas considerações sobre os efeitos espiritualmente insalubres da pandemia


Durante esse confinamento do Covid-19 que tem forçado todos a manterem distanciamento social uns dos outros — e, na minha opinião, isso passou do ridículo —, uma coisa ficou muito clara, tanto para mim como para outros pastores ortodoxos, e é que muitas pessoas contemporâneas, incluindo muitos cristãos, bem como cristãos de crença ortodoxa, ficam apavoradas com a idéia da morte física.

A inevitabilidade da morte é particularmente difícil de encarar para a maioria dos americanos, já que nos tornamos um povo que foge de funerais tradicionais, preferindo “celebrar a vida” do nosso ente querido enquanto nos livramos do corpo e abolimos qualquer sinal da morte da cerimônia fúnebre — quando decidimos fazer uma cerimônia. Contudo, a consciência da nossa morte, que acabará por acontecer, é exatamente a coisa em que devemos pensar se queremos estar preparados para a Eternidade.

Quando vivemos a nossa vida focados no divertimento, no prazer na aquisição de bens materiais nos escravizamos e só podemos encontrar liberdade no amor de Deus. Esse amor cria a perfeição e ausência total de erros e, quando pensamos na nossa própria morte, tornamo-nos livres para realizar toda tarefa para Deus.

Nossos corações caídos e encarcerados precisam de libertação e ansiamos sermos inflamados com o amor de Deus. Esse amor de Deus deve gerar um amor que permeie a nossa própria essência e nos permita amar todas as pessoas e todas as criaturas. Precisamos desejar que o nosso coração queime de amor, um amor que transforma o caos em harmonia.

É a energia divina e a força divina que nos transformarão nos seres que Deus planejou que sejamos, deificando e tornando o nosso ser pleno. Essa ação de Deus transformará o caos da nossa vida em harmonia e o nosso medo da morte será liqüefeito e não existirá mais.

Dada a promessa da vida eterna, como podemos nós, cristãos, ter medo da morte, medo de um vírus que poderia atuar como o próprio veículo que nos levará à vida eterna? Como podemos nós, cristãos, nos sentarmos em silêncio enquanto o governo emite decreto atrás de decreto para nos afastar da própria fonte da graça que se encontra na celebração da Divina Liturgia e no recebimento dos Vivificantes Corpo e Sangue do nosso Salvador?

Nós, cristãos ortodoxos, devemos viver a vida, tanto quanto pudermos, de acordo com a realidade de que Cristo ressuscitou dos mortos e venceu a morte, pisando a morte com a morte, e devemos resplandecer essa realidade para os outros.

Com amor em Cristo,
Abade Tryphon



Tradução: Fernando Xavier

Usar Máscara na Igreja? – Pe. Sasha Petrovich

Queridos irmãos e irmãs, meu amado rebanho em Cristo,

Estamos testemunhando eventos sem precedentes no nosso país e em todo o mundo. O vírus-novela COVID-19 amedrontou milhões de pessoas pelo mundo todo. Em resposta à crise de saúde, muitos países apresentaram várias medidas a fim de controlar a propagação do COVID-19. Muitas dessas medidas, porém, são tão irracionais e tirânicas que violam tanto a lei do homem quanto os nossos direitos inalienáveis ados por Deus.

Algumas dessas medidas draconianas restringem a liberdade de circulação, a liberdade de reunião, a liberdade de ir e cultuar na igreja e a liberdade de se ter empresas abertas, e em muitos países as crianças que “mostram sintomas de COVID-19” são tomadas dos pais e levadas para quarentena sem a permissão dos pais. Em outras palavras: o remédio se tornou mais mortal que a própria doença.

É óbvio que há muitas pessoas poderosas no mundo que estão explorando essa crise a fim de estabelecer o controle global da população mundial absoluto e completo, destruindo a economia mundial, apagando a história e reiniciando todos os aspectos da vida humana em um “novo normal”, o qual, é claro, não será para o benefício da humanidade, mas somente para o ganho pessoal delas.

Infelizmente, a real crise de saúde está sendo politizada, especialmente neste país, em antecipação das eleições presidenciais em novembro. Temos sido submetidos ao bombardeio implacável de informações horripilantes a respeito da taxa de mortalidade todos os dias, 24 horas por dia, 7 dias por semana. Parece que não havia morte e mortalidade antes do COVID-19! Ninguém está divulgando a taxa de sobrevivência ou taxa de recuperação, que é 99,96%. O alarmismo sistemático do movimento socialista militante (MSM) pode ser facilmente classificado como terrorismo psicológico! Não surpreende que a nação inteira está consumida pela histeria do COVID.

Há muitas declarações e recomendações contraditórias dadas por muitos profissionais da saúde, que apenas levam a mais confusão e novas divisões. Uma das maiores controvérsias é usar uma máscara em lugares públicos. Esse tópico é um assunto de grande debate por profissionais da saúde e consultores legais. Como muitos de vocês já sabem, no dia 13 de agosto o Conselho da Cidade e a Prefeita de Omaha (Nebraska) passaram um Decreto de Emergência (um “decreto de máscara facial”) para todos os locais públicos, incluindo locais de culto. O Decreto prevê numerosas exceções ao uso de máscara, como em um bar ou restaurante, mas uma máscara é necessária numa igreja a menos que a pessoa esteja socialmente distanciada a 2 metros de outras (exceto as “domésticas”). O uso de “domésticas” do Decreto não faz sentido. Por exemplo, um filho adulto que não vive mais com os pais, mesmo se forem à igreja juntos ele precisará ou ficar a dois metros de distância do pai e da mãe ou usar uma máscara.

Não sou cientista e não lançarei os prós e os contras científicos nesse tópico. Deixarei essa discussão para os que têm muito mais conhecimento. Porém, como um sacerdote ortodoxo, como um pai espiritual do meu rebanho e, finalmente, como um amante da liberdade e um cidadão que respeita a lei, é meu dever lhes orientar nessa questão a partir de uma perspectiva ortodoxa.

Apesar do Decreto de Emergência de Omaha ser sem sentido e irracional, de acordo com o Governador Pete Ricketts e o procurador-geral de Nebraska, está além da autoridade da cidade de Omaha sob sua carta emitir esse decreto. Tanto a Constituição dos Estados Unidos quanto a de Nebraska resguardam o livre exercício da religião. No epicentro disso está a liberdade de culto nas nossas igrejas. Na minha opinião, sob a lei de Deus e as Constituições dos Estados Unidos e de Nebraska, qualquer regulamentação que seja pelas autoridades civis — sejam federais, estaduais ou locais — que regulamente ou limite o culto nas nossas igrejas é ilegal e não-vinculativa. E, o que é mais importante, cobrir a face é contra as nossas crenças cristãs ortodoxas.

Imagine você dando a mais chique festa de Ação de Graças para seus parentes e amigos, onde todos são servidos com a melhor comida, usando os seus utensílios e talheres mais caros. Porém, um convidado trouxe o próprio prato, talheres e guardanapo com medo de que você não lhe desse utensílios limpos. Essa demonstração de dúvida na frente dos outros convidados certamente te ofenderia e te constrangeria, e provavelmente você não convidaria aquela pessoa para a sua casa de novo.

Quando vamos à igreja para participar da Divina Liturgia, vamos à Casa de Deus, para participar da Ceia do Senhor que Ele nos dá toda vez com tanta gratuidade. E a palavra grega “Eucaristia” significa literalmente “ação de graças”. Uma vez que cruzamos o limiar da igreja, saímos do mundo e do profano e entramos em outra realidade: no mundo da santidade. Uma vez que ouvimos as palavras “Bendito seja o Reino do Pai e do Filho e do Espírito Santo…”, não estamos mais em Omaha, Chicago ou Nova Iorque, mas estamos na Jerusalém Celestial — na presença do Deus Vivo, na Ceia de Seu Filho Unigênito e na Comunhão do Espírito Santo. O nosso Deus Amoroso nos convidou ao banquete, e se chegarmos à Sua Ceia com medo de que Ele nos infectará com qualquer tipo de doença, e o demonstrarmos usando uma máscara, iremos insultá-Lo perante todos, como aquele convidado germofóbico te insultou na frente dos seus parentes e amigos no jantar de Ação de Graças.

Quando vamos à igreja, somos chamados e comparecer diante de Deus face a face, como “o Senhor falou com Moisés face a face” (Ex 33:11). Depois que Moisés falou com Deus sua face passou a resplandecer, e não foi fácil para as pessoas olhar para o brilho dele. Por isso Moisés usava um véu sobre a face quando falava com as pessoas. “Mas quando Moisés ia para diante do Senhor para falar com Ele, tirava o véu até que saísse” (Ex 34:34).

Essa frase “face a face” é usada com muita freqüência nas Sagradas Escrituras e sempre significou franqueza, sinceridade, confiança e aceitação. Ainda hoje quando falamos sobre um encontro importante, decisivo, dizemos: “Nos encontraremos face a face”.

Ao contrário, na Escritura, esconder a face sempre significa vergonha, desconfiança, posição desfavorável, divisão e separação. É por isso que o Profeta Davi nos Salmos clama a Deus para que não esconda dele a Sua face:

“Quando Tu disseste: ‘Buscai a minha face’, meu coração disse a Ti: ‘Tua face, Senhor, buscarei’. Não escondas a Tua face de mim; não rejeites o teu servo com ira” (Sl 27:9)

“Ouve a minha oração, Senhor, e chegue a Ti o meu clamor. Não escondas a Tua face de mim no dia da angústia” (Sl 102:1-2).

Quando o Profeta Isaías exorta Israel por causa de sua iniqüidade, diz: “Vossas iniqüidades fazem separação entre vós e Deus, e vossos pecados escondem a Sua face de vós” (Is 59:2).

A ênfase na face na Escritura é sempre uma ênfase na personalidade. A nossa face é a característica mais importante da nossa pessoa — de quem nós somos. Somos reconhecidos pela nossa face diante de Deus e diante das pessoas. Somos criados à imagem de Deus e essa imagem deve permanecer inalterada para sermos quem somos. Quando cobrimos a nossa face, somos apenas mais um na multidão (do rebanho submisso) e perdemos a nossa personalidade, o que está em contradição direta com a imagem de Deus à qual fomos criados.

Usar uma máscara compromete gravemente a nossa habilidade de nos comunicarmos com as outras pessoas. A Psicologia diz que as nossas palavras representam apenas 7% da mensagem geral na nossa comunicação face-a-face, o tom de voz 33%, enquanto as expressões faciais e a linguagem corporal representam imensos 55%.

Hoje em dia, através do uso excessivo dos “smartphones” a qualidade do nosso relacionamento com os nossos amados já é roubada, e agora, sem apertos de mão, sem encostar e cobrindo a face (o que leva o devido nome sinistro de “distanciamento social”), nos transformaremos em zumbis ambulantes, desprovidos da nossa humanidade. Isso inevitavelmente terá conseqüências negativas graves para a nossa saúde mental e não ajudará a restaurar as pontes na nossa sociedade dividida.

É por isso que o escritor Charles Burris está correto ao observar que as pessoas que sucumbem a essa nova religião do COVID vêem nas outras pessoas uma ameaça — principalmente as que estão aparentemente saudáveis (assintomáticas) e evitam as pessoas —, e as que se recusam a ser desumanizadas e usar a burca de estilo ocidental no rosto são vistas como hereges perigosos que precisam ser removidos da sociedade ou “queimados na estaca”.

O COVID-19 e a sua “onipresença” têm, de muitas formas, substituído Deus e transformado a nossa sociedade numa Sharia Secular. Essa ligação entre o Islã e os decretos de máscara seculares é assim explicada:

“2.300 anos atrás, muito antes do Islã, os árabes descobriram que forçar as pessoas a cobrir o nariz e a boca quebrava a vontade e a individualidade delas e as despersonalizava. Deixava-as submissas. É por isso que impuseram sobre todas as mulheres o uso obrigatório de um pano no rosto. Depois o Islã o transformou no símbolo da submissão da mulher a Allah, ao homem dono do Harém e ao Rei. A psicologia moderna explica: sem uma face não existimos como seres independentes. A criança olha no espelho entre os dois e três anos de idade e se descobre como um ser independente. A máscara é o começo de apagar a individualidade. Aquele que não conhece a sua história está condenado a repeti-la.”

Queridos irmãos e irmãs, nós acabamos de celebrar recentemente a Transfiguração do Senhor, a qual nos ensina que um homem pode ser o comunicante e o receptor das energias divinas incriadas. Um sacerdote é um homem fraco, inclinado a falhas como qualquer outro ser humano. Porém, um sacerdote durante a Divina Liturgia ou em qualquer outro rito sacramental está revestido da graça do sacerdócio e se torna o comunicante das energias divinas incriadas e as transmite através do sacerdócio, não através de sua própria santidade. O Sto. Vladika Nicolau diz: “A eletricidade é transmitida mesmo através do fio enferrujado”.

É claro, se o sacerdote leva uma vida santa, ele tem o dobro da graça. Contudo, quando beijamos a mão de um sacerdote, tornamo-nos comungantes das energias divinas incriadas e recebemos a graça divina à medida da nossa piedade e fé. São Paísios, o Atonita, costumava dizer que o sacerdote que está servindo durante a Divina Liturgia “não tem suas próprias mãos”. Assim, se cremos que o sacerdote pode nos passar uma doença, negamos então a graça do sacerdócio e negamos a graça divina que está sobre ele.

Quando rejeitamos as energias divinas incriadas por meio dos nossos atos de dúvida (usando uma máscara na igreja), negamos Deus e criamos um outro — um falso deus. O mesmo se aplica ao templo de Deus (a igreja). Se duvidamos que há graça divina na igreja, rebaixamo-la então a um mero auditório ou um centro comunitário.

Tudo isso nos leva à pergunta derradeira: acreditamos em Deus? Se acreditamos, que tipo de Deus é Ele? É Ele um Deus criado pela nossa mente a quem reconhecemos ter tanto poder quanto determina a nossa mente? Provavelmente nós nem percebemos que por não entender esse problema (de má vontade) nós blasfemamos contra o Espírito Santo. Somos infectados por um pensamento herético, embora confessemos formalmente a nossa Ortodoxia. Blasfemamos contra o Espírito Santo, e receio que se persistirmos nisso isso não nos será perdoado, segundo as palavras de Cristo: “Mas aquele que blasfemar contra o Espírito Santo nunca tem o perdão, mas é sujeito à condenação eterna” (Mc 3:29).

Quando temos medo de venerar os santos ícones, venerar a mão de um sacerdote, ou, o pior de tudo, de receber a Santa Comunhão na mesma colher, rejeitamos o poder salvífico e santificante da graça do Espírito Santo. Acreditamos que o Espírito Santo é capaz de, de algum modo, de nos transmitir algo ruim ou impuro, o que é a maior blasfêmia.

O nosso Senhor Jesus Cristo nos garantiu que o nosso Pai Celestial tem tudo sob Seu controle e que nada pode acontecer conosco sem a Sua vontade ou conhecimento:

“Não se vendem dois pardais por uma moeda de cobre? E nenhum deles cairá em terra sem a vontade de vosso Pai. Os próprios cabelos da vossa cabeça estão contados. Não temais, pois; mais valeis vós que muitos pardais” (Mt 10:29-31).

Quase toda litania na Igreja Ortodoxa acaba com esta petição: “Ampara-nos, salva-nos, tem piedade de nós e guarda-nos, ó Deus, pela Tua graça”. Se ainda temos medo de sermos infectados na igreja depois de dizer isso, estamos o negando completamente. Eu sempre me perguntei por que o nosso Salvador disse aquelas palavras: “Mas quando vier o Filho do Homem, achará fé na terra?” (Mt 18:8). Mas agora vejo que isso não é de modo nenhum um exagero. Milhões de cristãos se renderam ao “novo normal” sem nenhuma luta e demonstram pelo seu comportamento a sua desolação espiritual e lealdade à nova religião do COVID.

E o que é mais triste: muitos dos nossos pastores espirituais — os bispos — têm seguido cegamente as ordens inconstitucionais das autoridades do Estado e fechado igrejas para os crentes, alegando, assim, que ir à igreja e participar dos Santos Sacramentos é “não-essencial”. Que vergonha! Eles não escaparão da justa ira de Deus.

O ensino da Igreja é claro. Não devemos “abandonar a nossa congregação” (Hb 10:25). O cânone ortodoxo da lei (da igreja) diz que não podemos faltar a mais do que três liturgias de domingo sem uma boa razão (como uma enfermidade severa), e eu como sacerdote sou obrigado a servir a liturgia regularmente e ministrar os sacramentos para os fiéis em dia.

Conheço muitas paróquias ortodoxas aqui e lá fora que se curvaram às medidas sanitárias guiadas pelo COVID-19 e às quarentenas das autoridades civis, mas algumas poucas não se curvaram. Durante o COVID-19 algumas paróquias fecharam completamente, algumas tiveram apenas serviços virtuais “transmitidos ao vivo”, ou exigiram máscaras, distanciamento social, luvas, proibiram que se beijasse ícones, cruzes e afins. Aqueles que assim o fizeram, obedeceram a lei do homem quando entrou em conflito com a lei de Deus (At 4:19; At 5:29). Pior ainda são as paróquias que impuseram medidas que excedem as das autoridades civis. Nos dois mil anos de história da Igreja Ortodoxa podemos ter tido nosso culto reduzido ou fechado pelas autoridades civis, mas nunca fizemos isso a nós mesmos, nem em tempos de peste.

“Todo aquele, pois, que me confessar diante dos homens, ele confessarei também diante do meu Pai que está nos céus. Mas todo aquele que me negar diante dos homens, ele também negarei diante do meu Pai que está nos céus.” (Mt 10: 32-33)

Na minha opinião, ao comparecermos à igreja fielmente e não nos submetermos às máscaras e outras medidas sanitárias guiadas pelo COVID-19 estamos confessando Cristo, mas ao ficarmos longe da igreja sem uma boa razão ou ao usarmos máscaras na igreja estamos negando a soberania de Deus.

São Paulo nos avisa que nos últimos dias haverá aqueles que “mantêm a forma da religião mas negam-lhe o poder” (2Tm 3:5), e colocam acima de Cristo a “chamada ciência” (1Tm 6:20). Embora Cristo tenha nos avisado a não nos arriscarmos desnecessariamente tentando Deus (Mt 4:7), comparecer fielmente à igreja sem máscaras não é tentar Deus (como fazer uma corrida de arrancada numa rua pública movimentada). É, antes, testemunhar a Providência de Deus seguindo os Seus mandamentos e deixando o destino de cada um de nós em Suas mãos amorosas. Então esperaremos com confiança o nosso Senhor nos dizer um dia: “Fizeste bem, servo bom e fiel” (Mt 25:23).

Confessemos com as ações aquilo que confessamos com a boca, e creiamos que a Graça Divina existe em nossas igrejas, em nossos ícones e em nossos sacerdotes. A nossa participação nessa graça depende da nossa fé. O quanto cremos é o quanto recebemos. Porém, a existência dessa graça não depende da nossa fé. Deus, “Aquele que era, que é e que há de vir” existirá mesmo se não crermos n’Ele. Encontremo-nos FACE A FACE com Ele toda vez que formos à igreja.

Em Cristo,

Rev.mo Pe. Sasha Petrovich
Igreja Ortodoxa Sérvia de São Nicolau,
Omaha, Nebraska, EUA

Fonte: Russian Faith

Tradução: Fernando Xavier

Como Devemos Tratar uma Pessoa Que Nos Trata Injustamente? – São Paísios do Monte Atos

— Geronda (Ancião), como devemos tratar uma pessoa que nos trata injustamente?

— Como devemos tratá-la? Devemos tratá-la como um grande benfeitor que faz depósitos a nosso favor na conta poupança de Deus. Ela está nos deixando eternamente ricos. Essa não é uma questão de menor importância. Nós não deveríamos amar os nossos benfeitores? Não deveríamos expressar a nossa gratidão por eles? Do mesmo modo, devemos amar e sermos gratos à pessoa que nos trata injustamente, porque ela nos beneficia eternamente. O injusto sofrerá um prejuízo eterno, enquanto os que aceitam a injustiça com alegria serão justificados eternamente.

Um homem de família piedoso havia sofrido muitas injustiças no trabalho. Mas ele era muito bondoso e suportou tudo sem reclamar. Ele veio à minha kalyvi uma vez e me falou disso e então me perguntou: “O que o senhor me aconselha a fazer?”. “O que você deve fazer”, disse eu, “é esperar a justiça divina e a recompensa divina e ser paciente. Nada se perde. Dessa forma, você está depositando ‘dinheiro’ no ‘banco de poupança’ de Deus. Com certeza você receberá dividendos na próxima vida, por todas as provações pelas quais está passando agora.

É bom que saiba que o Bom Senhor recompensa a pessoa tratada injustamente mesmo nesta vida. E, se Ele nem sempre a recompensa, Ele certamente o fará com os filhos dela. Deus sabe. Ele tem a providência para a Sua criatura. Onde há paciência, as coisas se ajeitam. Deus provê. Precisamos de paciência, não de lógica. Uma vez que Deus está assistindo, Ele está nos observando, devemos nos render incondicionalmente a Ele. Veja, o Justo José não disse nada quando seus irmãos o venderam como escravo. Ele poderia ter dito: ‘Eu sou irmão deles’. Mas não disse nada, até que Deus falou e fez dele rei (cf. Gênesis 37:20ss). Mas quando a pessoa não tem paciência ela sofre. A partir daí ela quer que as coisas sejam do jeito dela, convenientes a ela e confortáveis para ela. Mas, é claro, ela não encontra conforto desse modo, e as coisas não saem do modo como ela quer que saiam”.

Quando alguém é injustiçado nesta vida, seja pelos homens, seja por demônios, Deus não se preocupa, porque, como conseqüência disso, a alma se beneficia. Muitas vezes, porém, nós dizemos que somos injustiçados, quando na realidade nós é que estamos prejudicando. Precisamos ter muito cuidado para distinguir uma coisa da outra.

São Paísios, o Atonita, Spiritual Counsels, Volume I: With Pain and Love for Contemporary Man. Holy Monastery “Evangelist John the Theologian”, 2ª Edição, 2007, pp. 94-95.

Tradução: Fernando Xavier

A Regra do Jejum – São Teófano, o Recluso

O jejum consiste em permanecer com Deus no pensamento e no coração abandonando todo o resto e recusando qualquer busca de si mesmo, tanto no espiritual como no material.

Devemos fazê-lo inteiramente para a glória de Deus e o bem do próximo, levando, voluntariamente e com amor, o jejum, as privações do sono e do descanso e negando-nos a satisfação que a companhia dos outros nos proporciona. Tais privações devem ser feitas com moderação, pois não se deve chamar a atenção nem nos debilitarmos a ponto de sermos incapazes de cumprir nossa oração.

 

Tradução: Gilmar Saint’ Clair Ribeiro

Texto retirado do livro Os Sentidos da Alma (Ed. Loyola, 1998).

Os Servos do Anticristo Se Esforçam para Expulsar Deus da Vida dos Homens – Arcebispo Averky (Taushev)

Os servos do Anticristo, mais do que tudo, se esforçam para expulsar Deus da vida dos homens, para que os homens, satisfeitos com o conforto material, não sintam nenhuma necessidade de se voltarem a Deus em oração, para que não se lembrem de Deus, mas vivam como se Ele não existisse. Portanto, toda a ordem da vida de hoje nos chamados países “livres”, onde não há perseguição sangrenta aberta contra a fé, onde todos têm o direito de acreditar no que quiser, é um perigo ainda maior para a alma do cristão (do que a perseguição aberta), pois o acorrenta completamente à terra, compelindo-o a esquecer o céu. Toda a “cultura” contemporânea, voltada às realizações puramente terrenas e ao turbilhão frenético da vida relacionado a ela, mantém o homem em um estado constante de vazio e distração que não dá oportunidade para ele se aprofundar pelo menos um pouco mais na própria alma, e assim a vida espiritual nele morre gradualmente.

 

Arcebispo Averky (Taushev) de Siracusa, citado pelo Pe. Serafim Rose.

 

Tradução: Fernando Xavier

 

Vida Espiritual – Arquimandrita Emiliano de Simonopetra

Sermão dado na Igreja de S. Nicolau em Trícala, Grécia, em 10 de janeiro de 1971.

Poucos dias atrás, celebramos o Dia do Ano Novo. Um novo ano começou. Espero que, com a aurora deste novo começo, seus lares se tornem como aqueles “edificados sobre a rocha” (Mt 7:24-25). Espero que todos vocês, “remindo o tempo” que Deus lhes deu (cf. Ef 5.16; Cl 4:5), sejam bem sucedidos na luta para levarem uma vida espiritual, para se tornarem pessoas espirituais. Seu caminho é espiritual. Que possam viver uma vida espiritual verdadeira.

Deus nos achou dignos de ver a aurora de mais um ano. Estima-se que no ano passado cerca de 45 milhões de pessoas morreram. Fomos achados dignos de viver. É uma dádiva, uma oportunidade que Deus nos deu para o nosso sucesso, não no novo ano, mas na nova vida para a qual fomos chamados. Quais são os sinais e as características particulares dessa nova vida? Algumas pessoas riem de nós e algumas nos louvam. Algumas dizem que os cristãos são pessoas sensatas, enquanto outras dizem que somos loucos. E, enquanto lutamos para levar uma vida cristã, para nos tornarmos velas brilhando em Cristo, outros vivem a vida sem ideais, desprovidos de visão espiritual, preocupados apenas com coisas pequenas e vãs. E, no entanto, às vezes invejamos essas pessoas. Que estranho! Os que são chamados ao céu, os que foram escolhidos para viver com os anjos, os arcanjos e os santos, invejam os que são amarrados à terra! Mas não é assim que deveríamos ser. Quanto a eles, que continuem com suas mentiras.

Uma vez perguntaram para um filósofo francês o que ele achava da vida dele. Ele respondeu que não achava nada. Então perguntaram:

“Você já pensou alguma vez a respeito do céu? A respeito de Deus?”

“Não, nunca”, respondeu ele.

E, porém, vejam com o que esse homem, que não pensava nem em Deus nem na própria vida, era de fato preocupado. Fizeram outra pergunta:

“Você tem momentos difíceis na vida, preocupações, problemas, momentos em que o medo te domina?”

“Sim — há muitas coisas que me deixam psicologicamente ansioso”, disse o filósofo, “e, nesses momentos, busco consolo nos meus sapos”.

Ele tinha desprezo por pensar em Deus. Preocupava-se, porém, com seus sapos de estimação, criados para consolá-lo durante os momentos difíceis da vida. Pobre filósofo francês! Chegará o dia em que, junto com o seu colega alemão, você dirá: “Estou preocupado com tudo isso. Qual é o sentido de toda a minha ânsia e dos meus suspiros?”. Ele tinha então setenta e cinco anos, e ainda vivia em pecado. E, quando você morrer, pedirá, como aquele outro filósofo: Luz, mais luz. Mas a luz veio ao mundo e você não a aceitou (cf. Jo 3:19).

Às vezes ficamos deslumbrados com pessoas mundanas, mas nos esquecemos de que todos os seus palácios maravilhosos estão edificados sobre a areia, e de que, um dia, elas os verão desmoronar em um monte de pó (cf. Mt 7:26-27). Se quisermos nos aproximar delas, que seja durante seus momentos de honestidade, quando conseguem abrir o coração a nós. Então veremos que elas têm os olhos cheios de lágrimas, e cheios das coisas do mundo; veremos seus corações mergulhados no desespero e sendo sufocados por sua saciedade. É quando você ouvirá o que seus lábios cansados estão sussurrando: “Diga-me, como posso me esquecer deste mundo cruel?”. São almas mortas, mesmo estando vivas. Almas sem ideais, sem qualquer aspiração a uma vida espiritual mais elevada — é o único modo de descrevê-las: almas mortas.

Em contrapartida, para aqueles de nós que queremos ser corações vivos, em chamas, com ideais mais elevados, quais são os princípios que devem governar a nossa vida espiritual?

Em primeiro lugar, para sermos pessoas espirituais, para as nossas vidas serem verdadeiras, devemos viver um estilo de vida sacramental e místico. O que significa um estilo de vida sacramental e místico? Algum de nós nasceu por conta própria? Não. Todos nós recebemos o dom da vida dos nossos pais e mães. Do mesmo modo, ninguém obtém o dom da vida espiritual pelo próprio esforço, por mais que tente. Por mais que eu me alongue, não conseguirei ficar mais alto, não importa o quanto eu me esforce. Do mesmo modo, não conseguirei eu mesmo criar uma vida espiritual. Mesmo se eu me esgotar tentando, se eu me esforçar muito e chorar, ou fazer longos jejuns, a vida espiritual é um dom concedido a mim pelo Espírito Santo (cf. Ef 2:8-10).[1] Segue-se, pois, que a condição básica para a vida espiritual é que nós devemos entender que, sozinhos, não podemos fazer absolutamente nada. Não importa o quanto tentemos, a vida espiritual é algo que outra pessoa nos dá. E essa “outra pessoa” é o Espírito de Deus, o Consolador, o “tesouro de bens e doador da vida”, o tesouro do qual todas as riquezas da espiritualidade provêm, a fonte da qual a vida espiritual emerge e transborda. É claro que às vezes nos confundimos e pensamos que ser espiritual significa ser “uma boa pessoa”: não roubar, não matar, não ir a lugares ruins ou sair com amigos ruins, ir à igreja aos domingos, estar lá para a doxologia, ou pelo menos a tempo de ouvir “Bendito é o reino do Pai e do Filho e do Espírito Santo”, ler livros espirituais, e por aí vai.

Mas não, isso não é a vida espiritual. Uma pessoa espiritual, um cristão de verdade, é alguém cuja vida inteira está consagrada a Deus. Inicialmente, por meio do Batismo, e depois, no seu coração, essa pessoa faz um voto para Deus, de viver para Deus e permanecer com Deus para sempre.[2] Uma pessoa espiritual é um atleta que repentinamente começa a viver, que se diferencia das multidões e corre para o céu com toda a velocidade da sua alma. Uma pessoa espiritual é uma pessoa que, com os olhos radiantes e o peito inclinado para frente, direciona a sua corrida e a sua carreira para o céu. Não é “um homem bom”. Uma pessoa espiritual sabe que, para chegar lá, precisa de asas fortes: as asas do Espírito Santo.

Uma pessoa espiritual deve, então, fazer todo o possível para atrair, conquistar o Espírito de Deus, pois somente o Espírito Santo, o próprio Deus, tem os dons da vida espiritual.

Segundo São Gregório de Nissa, cuja festa celebramos hoje, a “distribuição dos dons reais” do Espírito Santo se dá na Igreja por meio dos sacramentos.[3]

O primeiro sacramento é o Batismo, seguido pelo Crisma. Depois deste, há a Confissão, um sacramento que purifica o nosso coração dos pecados e nos coloca diante de alguém que nos guia ao céu: sem ele, nada podemos fazer. Depois deste, vem a Santa Comunhão. Tal como quando o Espírito Santo encobriu com a Sua sombra a Toda-Santa Virgem (cf. Lc 1:35), e o Verbo de Deus desceu e Se fez carne em seu ventre, o Espírito entra em nossa alma para que Cristo possa nascer dentro de nós, para que possamos nos familiarizar intimamente com Ele e torná-Lo nosso; para que a vida de Cristo possa tornar-se a nossa vida. E é exatamente isso o que acontece nos sacramentos, começando com o Batismo e o Crisma. Sem eles, hão há vida cristã. O que quer que você faça, mesmo se der a sua vida inteira aos pobres, não será salvo sem o Batismo e o Crisma.

Na medida em que recebemos Cristo no Batismo e no Crisma, também recebemos na Santa Comunhão. Aquele pedacinho que você recebe, que você põe na boca e quase não sente, é todo o Cristo, é toda a Trindade, juntamente com a Igreja de Cristo e todos os santos. Isso é a Santa Comunhão. Se você tem uma tigela cheia de farinha e acrescenta um pouquinho de fermento, toda a farinha é fermentada (cf. Gl 5:9). Se você recebe um pedacinho da Santa Comunhão, você é imediatamente fermentado; embora você seja um ser humano, torna-se o que a Santa Comunhão é: Deus! E é por isso que os primeiros cristãos participavam dela todos os dias (cf. Atos 2:46). E nós recebemos a Comunhão a cada quinze ou vinte dias, e ainda pensamos que cumprimos o nosso dever, que estamos bem; aliás, que fomos até além do nosso dever! Mas eles recebiam a Comunhão todo dia, porque sabiam o que ela era.

Podemos dizer, então, que um estilo de vida sacramental significa união sacramental com Deus, participação na vida da Igreja mediante os mistérios.

Usamos também uma outra expressão: experiência mística, união mística com Cristo. O que significa união mística? Ah, meus caros amigos, me escutem com atenção agora, me dêem um pouco mais de atenção e verão, quando terminarmos, o quanto entendem isso — e, quando experimentarem isso, sentirão tanta alegria que serão gratos por eu lhes ter contado. Escutem. Experimente isso e verá como é fácil estar unido a Cristo todo dia, toda hora, a todo momento: você e Cristo.

Você já viu o que acontece com as criancinhas, as crianças inocentes e puras, quando você põe diante delas algo de que gostam: imediatamente arregalam os olhos como o céu azul, abrem as mãos e batem palmas e pulam de alegria. É isso o que você fará quando sentir a doçura da união mística com Cristo, quando vir e notar o quanto é fácil estar misticamente unido a Deus. Quando experimentar isso, vai se lembrar do que eu disse. O seu coração será inundado de sentimentos de alegria, e você também clamará com S. Simeão, o Novo Teólogo: “Dizei-me, homens fúteis, se entendeis isto: que pessoa, tendo ganhado Cristo, precisa de qualquer uma das coisas boas deste mundo?”.[4] Digam-me, homens de futilidade, que vivem na mentira, se vocês conhecem alguém que colocou Cristo no coração e ainda quer qualquer coisa de tudo o que pode se encontrar na terra ou no céu.

O que é, então, a união mística com Cristo? Como ela ocorre? Mas receio que eu já tenha cansado vocês, então me permitam fazer uma pequena pausa para descanso compartilhando com vocês uma história sobre S. Simeão, o Novo Teólogo. Ele é um grande santo da Igreja e escreveu sobre o que viu, o que experienciou, como se alegrou, como desfrutou de Cristo durante a vida. Alguns de vocês, no entanto, podem se perguntar: será que isso é tudo verdade? Mas podemos fazer a mesma pergunta quanto a tudo o que se diz dos satélites russos e americanos. E talvez as coisas escritas sobre Napoleão não sejam verdadeiras, ou sobre Alexandre, o Grande, ou sobre outras figuras históricas. E quem pode saber se mesmo eu existo ou se vocês existem? Talvez isso também não seja verdadeiro. Mas a única realidade é o que os santos dizem. Venham dar uma olhada nessa realidade, tal como S. Simeão nos apresenta. Só lerei passagens curtas.

“Um dia em que eu andava até a fonte, Tu me encontraste no caminho, meu Cristo, Tu que havias anteriormente me purificado de todo pecado. E então, diante dos meus fracos olhos, brilhaste com um divino brilho, e percebi imediatamente que a luz que eu havia visto antes não era a luz verdadeira. Mas como foi possível que eu visse a Ti e conhecesse a Ti? Vi a Ti, fiquei perplexo, maravilhado, mas ainda não sabia que aquilo era Tu. Fiquei simplesmente maravilhado contigo. Eu disse: quem poderá ser este, tão brilhante, mais brilhante que o sol? E então foste embora. E um dia, depois de um tempo, retornaste, e depois daquilo apareceste muitas vezes a mim, e me cobriste com a Tua divina luz. Mas, novamente, ias embora e me deixavas sofrendo”.

“Eu tinha sempre comigo um ajudante, Teu discípulo, Teu apóstolo” — ele está se referindo ao seu Ancião, ao seu pai espiritual — “a quem eu honrava como se estivesse honrando a Ti, a quem eu amava de alma, e a cujos pés eu caía e pedia-lhe para me ajudar a Te conhecer melhor. E, enquanto eu andava pelo caminho um dia, Te apresentaste a mim novamente. Comecei a suspeitar que era Tu, mas naquele momento me arrebataste ao céu, como o Apóstolo Paulo diz, ‘há catorze anos’ fui arrebatado aos céus. No corpo? Na alma? Não sei (cf. 2Co 12:2), só Tu sabes”.

“Algum tempo depois, Te dignaste a Te apresentar a mim novamente. Tua face era como o sol. Dessa vez iluminaste o meu entendimento e abriste os olhos da minha alma. E, vendo-Te, disse: Quem és Tu, a Quem vejo e com Quem me maravilho? E então, ó Cristo meu, Senhor meu, então, pela primeira vez, concedeste a mim — eu, o pródigo — ouvir a Tua doce voz. E falaste comigo com tanta doçura, com tanta calma, que me deixaste em estado de êxtase, e fui enchido de admiração e tremi e pensei: Que glória é essa, para mim, poder ver a Deus! A partir daquele momento, não cessei de agradecer a Ti!”

“E outra vez, quando eu estava prestes a beijar o ícone da Tua santa Mãe, tendo me ajoelhado para venerá-lo, antes que pudesse me levantar, apareceste primeiro diante de mim e depois no meu coração. E então percebi que havias Te unido a mim. A partir de então, amei-Te mais, não apenas com a mente, mas com todo o coração. Desde então, nunca nos separamos”.[5]

Estão vendo como este santo da Igreja viu Cristo e se uniu a Ele? Estão vendo a que estatura os santos chegam? Mas como fazem isso? O que fazem para chegar a essa grandeza? Em primeiro lugar, são perfeitamente indiferentes às coisas do mundo. Nada lhes interessa. Quando algum assunto urgente te obriga a dirigir rápido para algum lugar, você não examina o carro para ver se ele está novo, ou que tipo de funcionalidades secundárias ele tem; o que te preocupa é chegar ao seu destino. Assim é como os santos, que nunca se desviam do seu propósito. Não são apegados a nada do mundo. Não amam nada do mundo. Só aguardam Cristo. E Ele os purifica: purifica os corações deles. Então, como nos disse S. Simeão, Ele ilumina as suas almas e lhes concede a visão de Deus. Deus aparece diante dos seus próprios olhos. O que diz o Evangelho? “Bem-aventurados são os puros de coração, pois verão a Deus” (Mt 5:8). Os santos vêem Deus.

Depois da purificação e da iluminação, Deus concede a eles a libertação das paixões. Nenhuma fúria ou ira ou inveja ou angústia ou preocupação ou indignação! Paixão nenhuma! Libertação! E à medida que suas almas se tornam radiantes, tornam-se vasos apropriados para conter Deus. E então Cristo entra nelas e se unem misticamente. Quando ocorre essa união mística, quando o santo viu Cristo, quando se alegrou n’Ele, compreendeu-O, conheceu-O, desfrutou d’Ele, ele então é preenchido com o amor divino. Mas talvez vocês me digam: Nós também já não sentimos essas coisas? Não amamos Cristo? Não se preocupem. Nós O amamos também, mas, comparado com o oceano do amor deles, o nosso não é mais que uma gota minúscula.

Os santos são pessoas celestiais. Vocês já viram algo pegando fogo e se queimando por completo? É assim que a vida deles é. Eles se comunicam com Cristo e estão unidos a Ele de diferentes modos, mas principalmente por meio da oração incessante. “Meu Cristo”, dizem constantemente a Ele, “entra no meu coração, meu Senhor, meu Jesus, meu Cristo, vem e habita em mim”. E Cristo vai e habita misticamente em seus corações. Isso não deveria ser motivo de surpresa. Quando você chama uma pessoa, ela não vai até você? Cristo não irá, então, quando for chamado? Quando você fala com uma pessoa, ela não te ouve? Deus, que disse “O que quer que pedirdes, Eu vos darei” (Mt 21:22), não te ouvirá, então? “Vem e habita em nós”, o santo diz. Diz com os lábios, diz com a mente, diz com o coração, e, assim, o coração e a mente são unidos a Cristo. Então ele sente que Cristo está falando com ele, tornando a sua vida doce, o seu dia alegre e suas noites inesquecíveis.

E nós, o que devemos fazer? Todos sabemos o quanto a nossa vida é cansativa, sobrecarregada com mil preocupações. Mas, vendo o que os santos da Igreja fizeram, façamos ao menos algumas coisinhas que podemos fazer. Cristo aceita os cem, os trinta e os cinco que você der a Ele. Se não conseguir se lembrar d’Ele mil, ou cem, ou cinqüenta vezes por dia, diga a Ele: “Ó, Cristo meu!”. Não faça pedidos relacionados ao seu emprego, à sua mãe, à sua doença, ou ao sucesso. Não. Peça a Ele que entre no seu coração. Você consegue fazer isso dez vezes por dia? Cinco vezes? Se você sentir de invocá-Lo mesmo duas vezes por dia, depois de um mês você será adocicado e O buscará dez vezes, depois vinte vezes, e então começará a senti-Lo no seu coração.

Resumindo: o primeiro elemento da vida espiritual é a experiência mística e sacramental de Cristo. Através dos sacramentos, e pelo esforço de invocá-Lo misticamente, somos unidos a Cristo.

Consideremos agora o segundo elemento da vida espiritual, a saber, o espírito de martírio. Isso significa que a nossa vida deve ser um martírio com lágrimas, desgraças e com aqueles ao nosso redor zombando de nós? Nem um pouco. A vida cristã é um cântico de alegria. A vida cristã é uma celebração. Mas é também uma vida de heroísmo. A vida das pessoas mundanas pode ter suas alegrias, mas quanta amargura também!

Eu me lembro de um poeta que, quando era jovem, escreveu para um dos seus colegas de classe:

Amigo, é como se meu coração envelhecesse.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Vou à taverna, pedir de novo um vinho Samian que bebemos juntos…
e beberei e ficarei bêbado.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Ao redor estará o maravilhoso e largo horizonte,
Mas meu canto será como pranto.
Pois não conterá o céu azul
Que dá beleza à vida.
Nossos olhos estarão úmidos, e teremos
O Hades no coração.[6]

Os olhos dele estarão cheios de lágrimas, e no coração — pobre poeta! — ele terá o Hades. Mas nós, cristãos, temos o céu.

A uma vida de martírio é uma vida feliz, mas também heróica. Era uma vez uma criança que viveu durante a época das perseguições. Ela era feliz. Sua vida era como uma música. Então um dia seu pai pagão lhe perguntou:

“Filho, qual é o melhor presente que eu posso lhe dar?”.

“O melhor presente? Pai, eu sou cristão! O melhor presente para mim seria morrer por Cristo.”

“Você é cristão?”, perguntou o pai, assustado.

“Sim; morrer por Cristo seria o melhor presente.”[7]

Os cristãos não são covardes, pois não são amantes da carne. Sabem como viver. Sabem também como morrer por Cristo. É assim que os santos da Igreja viveram a continuam vivendo. Esse espírito de martírio é evidente no ascetismo, que é uma aceitação voluntária da labuta e da dor.  A maioria dos ascetas, tendo amado Cristo desde a juventude, procuraram sacrificar a si próprios e dar a vida a Deus, por Quem suas almas ansiavam. Muitas vezes se encerravam em cavernas, sem comer ou beber. Saíam desses lugares raras vezes, apenas para ir à igreja e, depois disso, para se alimentarem um pouco. Os santos Basílio, o Grande, e Gregório, o Teólogo, por exemplo, viveram em um eremitério pequeno e remoto que não era freqüentado por ninguém, exceto por algum eventual caçador. Viveram em privações, com sede, sem comida, em umidade, sem luz, até terem ficado praticamente paralisados. Depois disso foram tirados de lá pela mãe de Basílio.[8]

Outros dormiam por apenas algumas poucas horas. Durante a maior parte da vida, S. João Crisóstomo dormiu apenas três horas por dia, e de pé, sustentado por uma corda. [9] Outros, como o imperador Teodósio II, que se tornou um santo, usavam cilício debaixo das vestes, para castigar e subjugar o corpo.[10] Outros usavam correntes ao redor do corpo. Outros… quantos deveriam ser mencionados?

Hoje, essas coisas parecem ser simplesmente lendas ou interpretações erradas do espírito do Evangelho. Mas vocês não acham que elas testemunham um heroísmo óbvio, uma grandeza invejável, uma profundidade oculta, uma estatura inconcebível? Por meio dessas coisas, os santos transcenderem a natureza, venceram as paixões, eliminaram impulsos pecaminosos, pisaram o diabo, adquiriram um amor ardente, ganharam liberdade interior e, pelo estilo de vida angélico, tornaram-se luzes brilhantes para toda a humanidade e para todas as gerações.[11]

Essas são as coisas que foram feitas por esses santos, que tinham tais corações magníficos. Mas e quanto a nós? O que precisamos fazer para ter um espírito de martírio assim? Onde, em quais aspectos da nossa vida, devemos manifestar o nosso heroísmo? Em primeiro lugar, quando nos confrontamos com as tristezas da vida, com a dor, com os obstáculos, com as falhas e com todas as tempestades da vida. A vida é cheia de dor e de tristeza. Elas estão em toda parte. E todos nós enfrentamos momentos difíceis, quando somos tentados a dizer que Deus é o culpado, ou que Ele se esqueceu de mim e — quem sabe? — talvez não haja Deus; mas, se Deus existe, Ele é cruel. Por que Ele me atormenta assim, enquanto os incrédulos se alegram? E por aí vai. Mas, nesses momentos difíceis, digamos: “Gória a Ti, ó Deus”. Com essas palavras, você mostra que é um mártir por Cristo, que aceita com alegria a dor que enfrenta.

Em segundo lugar, você mostra heroísmo quando entende que a vida cristã exige uma luta, e que grandes sacrifícios são necessários para eliminar os impulsos das paixões, as fraquezas e os pecados. É preciso muita labuta para eliminar o pecado.

Quando começamos a nossa vida cristã, estávamos cheios de entusiasmo. Sem ele, teríamos sido como uma máquina sem vapor, ou um relógio parado, e no fim não teríamos chegado a lugar nenhum. Mas tivemos o nosso entusiasmo, tivemos o nosso pai espiritual, tivemos os escritos dos Padres, fomos ajudados pela graça de Deus e, assim, progredimos um pouco. Mas lentamente, pouco a pouco, as dificuldades apareceram: os fracassos, as concessões, os pecados, as tentações, os pensamentos de parar, de voltar atrás. A nossa vida, que até então havia sido como um cântico alegre, tornou-se uma cruz. Mas é aí, caro amigo, que começa o seu martírio. Quando a sua vida cristã começa a ficar difícil, quando ela parece uma cruz insuportável, é aí que você deve permanecer firme como uma rocha. É aí que você é um mártir. Diga para si mesmo: “Fiquemos de pé com reverência”.[12] Levante-se com rapidez e firmeza e sem se mover. Diga, como o profeta: “Eis-me aqui, ó Senhor, levanto-me disposto a fazer a Tua vontade” (Is 6:8). Seja como a Theotokos, que disse: “Eis aqui a serva do Senhor; aconteça em mim segundo a Tua vontade” (Lc 1:38). Se você suportar, a tempestade passará e você emergirá na calmaria; a sua vida se tornará de novo uma celebração, um dia de festa. Mas agora você terá a experiência do combate espiritual, você terá ganhado experiência. Depois dessa provação, depois de ter tomado a sua cruz, as chamas do amor divino serão acesas no seu interior e você ganhará o amor mais belo, mais poderoso, mais puro, mais angélico: o amor de Deus.

Em terceiro lugar, seja um mártir na luta contra suas dúvidas, suas hesitações, sua imaginação e seus pensamentos pecaminosos. Enquanto está aí sentado, pode ser que um pensamento entre na sua cabeça: “E se Deus não existir? E se for tudo uma mentira, tão vazia quanto o ar? E se não existir essa coisa de alma? E se o Cristianismo estiver errado? E se eu for um idiota?”. Nessas situações, tome a cruz das dúvidas e dos pensamentos. Uma pessoa que tinha dúvidas acerca de Deus, mas que nunca desistiu de lutar pela fé, disse: “Meus Deus, se Tu existes, envia-me o Teu Espírito Santo!” E Deus respondeu e enviou a ela o Espírito Santo. Ele abriu o coração dela, e depois a chamou para o posto de Bispo.

Em quarto lugar, mostre o seu espírito de mártir na arena diária da sua vida, no seu lar, com o seu marido, com a sua mulher. Quando seu marido chegar em casa cansado do trabalho e falar com você com falta de educação, não fique com raiva. Se ele gritar com você, não retruque. Mostre a ele amor, tolerância, paciência. Se a sua mulher queimou a comida, não grite com ela; coma a comida. Coloque um pouco de suco de limão na comida para deixá-la gostosa e diga para a sua esposa que está boa. Deixe o amor reinar na sua casa. Quando vir que o seu cônjuge foi injusto com você, não comece a gritar dizendo o quanto você está com a razão. Não importa se você está ou não com a razão. Não importa o que é o certo, mas o que a outra pessoa quer. Saia desse caminho. Negue-se. Coloque a outra pessoa em primeiro lugar. Isso é morte, isso é martírio.

Uma vez, quando eu estava com pressa para vir do mosteiro até aqui falar com vocês, peguei um táxi para não chegar atrasado. No caminho, perguntei ao motorista:

“Me diga, pelo menos às vezes você almoça ou janta com a sua mulher?”

Vocês sabem que tipo de trabalho esses motoristas têm, e como quase nunca eles sabem quando voltarão para casa.

“Todos os dias”, ele me disse, “eu almoço e janto”.

“Como você consegue? A que horas vocês comem?”

“O almoço começa às 10:00 da manhã e vai até 4:00 da tarde, e o jantar é das 6:00 da tarde às 2:00 da manhã”.

Estão entendendo? Às 10:00 da manhã a esposa dele já tinha a refeição pronta e aguardava ele chegar, não importa que horas fosse, para que pudessem comer juntos. E à tarde ela o aguardava desde 18:00, muitas vezes até 2:00 da manhã. Não é impressionante? É isso que martírio em vida significa: uma vida de amor.

Em quinto lugar, nas nossas interações sociais também devemos ser pessoas que negamos a nós mesmos. Devemos nos doar aos outros, e não sermos como o homem que disse: “Vivo para mim mesmo, penso em mim mesmo; para mim mesmo, e para ninguém mais” — como se Cristo nunca tivesse vivido, como se nunca tivesse morrido!

Ah, meus caros amigos, todas as pessoas à sua volta, tanto em casa quanto fora de casa, precisam de vocês. Há uma maldição terrível na nossa vida que aflige muitas pessoas: a maldição da solidão. Vocês se lembram daquela mulher que se matou aos setenta anos de idade porque, disse ela, nunca tinha havido ninguém na vida dela que a tivesse amado. Muitas pessoas vivem fechadas em sua solidão, e muitas vezes não há ninguém para mostrar um pouco de amor a elas.

Um escritor escreveu uma vez a respeito de um jovem num escritório que nunca havia tido ninguém próximo a ele que se interessasse por ele, e mostrasse um pouco de amor a ele, para que ele pudesse abrir o coração. Começou a nevar. Ele foi até a janela e olhou para a neve, para aliviar um pouco o seu coração pesado. Mas isso não aliviou. À noite, fechou o escritório, saiu e se encostou numa porta para descansar um pouco. Era de noite e o coração dele estava pesado, arrasado. Não havia ninguém naquele dia para mostrar a ele um pouco de amor. Mas naquela hora houve alguém! Era um homem com um cachimbo na boca, uma bengala na mão e um chapéu Fedora na cabeça. Um boneco de neve! Ele não havia encontrado outra alma para conversar, então abriu o coração para ele!

Todas as pessoas à nossa volta, pobres e ricas, pequenas e grandes, precisam se nós. Que a nossa vida seja marcada pelo amor, carinho, ternura e compaixão. Que vivamos próximos aos outros e para os outros. Como um dos ascetas diz, “o nosso alicerce é o nosso próximo”,[13] o que significa que a condição para a nossa vida espiritual está nas pessoas à nossa volta. Devemos amar os outros, não por alguma suposta “bondade”, mas por um senso de responsabilidade que temos para com eles.

Em sexto e último lugar, estejamos prontos, se necessário, para derramar o nosso sangue por Cristo e pelos nossos semelhantes. Estejamos prontos para nos sacrificarmos. No mínimo, devemos nos negar algo, dar algo por eles. Devemos sofrer, devemos abraçar o sofrimento por Cristo. Sem isso, nossa vida será uma vida incompleta.

Chegamos agora ao terceiro e último aspecto da vida espiritual, que é buscar Cristo. Eu me pergunto: o fogo foi aceso dentro de nós? Embora tenhamos sido batizados e escolhido Cristo; embora tenhamos começado a nossa vida espiritual, será que continuamos todavia a ser carnais, e assim abandonamos o nosso futuro a um jogo de azar? A vida espiritual deve ser marcada pela intensidade da busca por Cristo. Devemos pensar constantemente n’Ele e buscá-Lo, e então conheceremos a alegria. Como diz o Salmista, “Lembrei-me do Senhor e me alegrei” (Sl 76:4). “Buscai-Me e achar-Me-eis”, diz o Senhor (Mt 7:7; Lc 11:9). Se O buscarmos, O encontraremos, e nossa vida será cheia de alegria.

Muitas coisas na nossa vida escondem Cristo da nossa vista, e ficamos distraídos e absortos em muitas preocupações e, com isso, não somos capazes de tê-Lo sempre diante de nós. E mesmo as melhores coisas da vida podem se tornar obstáculos: seu emprego, seu lar, seus filhos, seu marido, sua mulher — tudo. As circunstâncias são difíceis, mas a vida espiritual é uma batalha na qual nunca devemos tirar nossos olhos de Deus. Precisamos estar sempre em busca do nosso líder.

Eu me lembro de uma vez em que havia ido à Santa Montanha e, num lugar com muitas árvores plantadas, vi à distância um asceta que entoava um cântico enquanto andava por um caminho. E de tempos em tempos, enquanto cantava, ele parava, se curvava, fazia uma prostração e então continuava pelo caminho. Quem, eu me perguntava, ele estava adorando? Corri por entre as árvores, fui até ele e o parei.

“Ancião, quem o senhor está adorando pelo caminho?”

“Mas, filho, você não está vendo Ele?”

“Quem?”

“Cristo. Se você não O vê, certamente consegue ao menos sentir que Ele está de pé na sua frente?”

Meus caros amigos, havia um tempo em que os olhos das pessoas se enchiam de lágrimas e os seus corações se incendiavam sempre que pronunciavam ou ouviam o Nome de Cristo. Caíam de joelhos. E por que, meu Deus, por que nós pensamos tão pouco em Ti; por que somos tão pouco movidos por Ti? Por que sentimos algum desejo por Ti tão raramente? Porque “onde o nosso tesouro está, aí estará o nosso coração” (Mt 6:21; Lc 12:34). Quer saber o quanto a sua vida custa, o quanto ela vale? Ela tem o mesmo valor da sua sede por Cristo; o quanto o seu coração pertence a Cristo, é o que ela vale.

Lembre-se, então, de que você fez um voto, uma promessa de permanecer fiel a Cristo até o fim da vida (cf. Ap 2:10). Nisso, você é como aquele filho do rei, que fez um voto sobre o Evangelho de permanecer leal ao pai até o dia em que morresse. Passaram-se muitos anos, a criança cresceu. Um dia, inimigos vieram, prenderam o rei e o aprisionaram numa terra distante. O filho permaneceu em liberdade. Se quisesse, poderia ter se tornado rei; mas não conseguia esquecer o voto que havia feito ao pai. “Fiz um voto”, disse, “e devo permanecer fiel a ele”. E um dia, quando ainda era noite, pegou o seu cavalo e passou pelo território do inimigo para encontrar o pai, para mostrar a ele que ainda permanecia fiel ao voto. Ao longo do caminho, enquanto passava por uma estalagem, cometeu um lapso e caiu do cavalo, bateu a cabeça e perdeu a consciência. Ao ouvir o barulho, as pessoas saíram, levantaram-no, ainda inconsciente, e o abrigaram. Assim que se recuperou, pediu um pouco de água e, tendo atado a cabeça com uma toalha, apressou-se para sair. “Espere”, disseram a ele, “aonde está indo”? A sua cabeça está sangrando, é perigoso. Mas o filho do rei não podia esperar. Ele havia feito um voto e tinha de honrá-lo. Montou num cavalo novo — o dele havia sido morto —, insistiu com o cavalo e saiu. Galopava pela estrada. O sangue escorria. Correu até o pai. Coberto de sangue e todo dolorido. Mas ele gritava: “Fiz um voto e pertenço ao meu pai”. Permanecerei fiel até a morte.

Permaneçamos fiéis até a morte!

[1] Ver também Sto. André de Creta, Sermão sobre o Publicano e o Fariseu (PG 97.1261AC).

[2] Uma referência ao voto, feito no Batismo, de renunciar a Satanás e se juntar a Cristo.

[3] S. Gregório de Nissa, Aos que Adiaram o Batismo (PG 46.417B).

[4] S. Simeão, o Novo Teólogo, Hino 19 (ed. Johannes Koder, SC 174 [Paris: Cerf, 1971], p. 98, linhas 50-52).

[5] Id., Discurso 36 (ed. Basil Krivocheine, SC 113 [Paris: Cerf, 1965], p. 340).

[6] K.G. Karyotakis, Obras Reunidas (Atenas, 1965), vol. 1, pp. 49, 14

[7] A criança é S. Tarcísio, um santo do século III, cuja festa é celebrada no Ocidente em 15 de agosto.

[8] S. Gregório, o Teólogo, Carta 4, 5 (PG 37.28A-29B).

[9] Vida de S. João Crisóstomo 4 (PG 114.1061D).

[10] Michael Glykas, Crônica 4 (PG 158.489C).

[11] “A vida monástica é uma luz para todos os homens”, S. João Clímaco, Escada da Ascensão Divina 26 (PG 88.1020D).

[12] I.e., o chamado do diácono ao povo, antes da anáfora da Divina Liturgia.

[13] Ditos dos Padres do Deserto (John Kolobos 39) (PG 65.217A).

Tradução: Fernando Xavier